
É aquele ritual mecânico de descer dos altos agulha e ficar cara a cara com o espelho. O mesmo processo de sempre. E depois, tirar os brincos, o vestido, a lingerie La Perla, atirar as almofadas aromatizadas no tapete, cair na cama, olhar no relógio, pensar, não dormir. Permanecer. Seu telefone convencional insiste em não tocar; o celular, idem. Você bebe um copo d'água, abre a sua Caixa de Entrada - nada de email's-, ouve Mozart, Leo Ferre, Nina Simone, Elis Regina e até aquele imitação barata da Britney Spears que está no top das paradas desse Brasil ignorante. A noite vai sumindo aos poucos, mas a sua ansiedade continua solta pela atmosfera. E não é uma sensação ruim, entretanto, não é uma das melhores. É estável, mas você nunca está estável, por isso, é estranha. Você já leu todos esses livros da sua estante; já assistiu a todos esses DVD's; já comeu duas trufas; já foi até o banheiro várias vezes; leu a Vogue, a Elle, a Paparazzi, a Nova e até a Veja. A questão é simples: por que você não consegue dormir? Será que é impossível assim? O que você fez de errado dessa vez? Nada? É, digamos que nada. E pra que tanto desespero? Você não comeu demais e nem está chovendo. Você não levou nenhum fora, e a conta do restaurante foi paga naturalmente. E você não bebeu nenhuma gota de álcool por medo de engordar. Você foi pra academia quatro vezes essa semana e não teve dificuldades para se levantar de manhã. Seus cabelos estão lindos, seu bronzeado causa inveja, suas unhas estão perfeitamente manicuradas. Será que tudo isso é por causa dele?
Então, você lembra dos seus remédios para dormir e mal consegue abrir os olhos no dia seguinte.