sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Too hot to be romantic


Lábios queimando como pontas de cigarro
entre ecstasy e alívio.
Lua quente,
resíduos da noite.
Ohos apertados, cílios sôfregos
sorriso intenso:
eu não te amo mais.



quarta-feira, 17 de outubro de 2007

me apalpou a noite inteira
no frio
e no calor.
de toda a epiderme
sereno.
o reflexo azul dos teus olhos
duas pedras fundas sem fim
nos lençóis e no travesseiro:
quando eu vi, já era sonho
... e menininhas de quinze anos que usam diademas de strass no cabelo e cobrem as unhas com esmalte rosa-perolado não falam essas coisas.
Ah, tá.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Tão eu

"O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo, indo embora. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga idéia de paraíso que nos persegue, bonita e breve, como as borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não dói."
(Cazuza)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Go Away

... não! não foi porque enjoei do cheiro dele nos meus cabelos. Eu fui embora porque estava inspirada demais. Precisei esvaecer, libertar-me do meu vazio e aproveitar o período de cheia; porque com ele as coisas funcionavam na base dos clichês. Saí fora do ar e ninguém pode fazer nada. Tudo é mais bonito e mais dolorido. Poderia jurar que a fagulha eminente dentro de mim quase não existe mais. Hoje ela só faz parte das faltas de ar que eu sentia quando a gente se beijava. A dor se tornou sublime com o tempo; ratificou-se nas minhas palavras e nos meus atos doentios por alguém que, bem ou mal, roubou os meus vícios. Fui embora porque precisava respirar. Suspirar já não me adiantava de nada e o meio-termo me causava tédio. Perdi a conta de quantas vezes ele me abraçou e deixou transparecer todo aquele mel que até Deus duvida. Contudo, meus olhos não brilhavam de ilusão. Aquele brilho todo eram as lágrimas que só fui vir a desperdiçar hoje de manhã na frente do espelho e, que borraram o meu rímel. A verdade é que a gente não precisava mais um do outro, tudo estava perfeitamente sincronizado e chato. Fomos embora. Um pra cada canto. Sem despedidas ou telefonemas. Sem recados na secretária eletrônica ou doses de Martini para aliviar a dor. Foi tudo remediado com palavras que nem sabíamos que existiam. Com apertos em feridas que, até então, nunca havíamos tocado. Não houve pedidos de reconciliação ou aumento de voz. Não houve cumprimentos, não houve nada. Eu fui embora porque pensava que saberia viver sem ele; porque eu quis ter a última palavra. Foi simples. Curto. Rápido demais. Nem deu tempo de eu amá-lo fisicamente. Apenas pretensões. Lábios nos lábios. Sorrir. Resistir. Sofrer.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Pra poder te negar bem no último instante

D. Lembra quando eu fui embora sem dizer pra onde ia? Você não esqueceria disso facilmente, porque até hoje a gente sempre acaba saindo junto. "A gente vai se ver a vida inteira". Fui eu quem disse isso. Nunca consegui negar você.
L. Eu disse que você rastejaria por mim e eu não faria nada. Mentira: eu não consegui negar você. Você rastejou e eu te levantei. E te beijei, e te abracei e acabei desistindo.
A. A de azul. A de antagonista. A de ahh! Os meus olhos ainda estão perdidos dentro dos seus. Quando você os encontrar, me avise. Porque eu preciso te negar bem no último instante. Os meus sonhos já cessaram. Não vou casar com você, nem te beijar, nem ter filhos. Mas eu preciso te negar.
F. Sem você aqui, paraíso sem cor. Sem você aqui, primavera sem flor. Você vai vir e eu vou te negar... bem no último instante. Pra depois me atirar nos seus braços e oferecer meus pescoço aos seus lábios ávidos. Só pra eu poder respirar... E te negar.

domingo, 7 de outubro de 2007

Escape

Fui vestida de qualquer jeito, com os cabelos ondulados e de cara lavada. Nem sequer um brilho labial, nem um rímel, nem nada. Meus jeans Carmim desbotados, casaco de moletom Everlast cinza e Nikes prateados meio sujos. Grande coisa. Ele me ama de qualquer jeito. Ele me ama bonita, bêbada, embrutecida, esgotada, inconsciente, triste, magoada, nas últimas. Descolei um ar blasé copiado de alguma atriz famosa, uma superioridade tão visível como água e arrastei minha carcaça à luta. Estava marcado para a cinco da tarde mas me dei ao luxo de me atrasar uma meia hora, visto que não encontrava nenhum táxi e não tinha a menor vontade de me juntar a ele. Pensei sete mil vezes antes de entrar naquele Café e dar de cara com ele, sempre ele; o meu escape. Inspirei com volúpia uma lufada de ar e entrei. Oi... beijinho... senta... já pedi um café arábico pra mim, você quer alguma coisa?... só um minuto... não vá me dizer que não quer?... entendo... faz quanto tempo que a gente se conhece?... três anos... é, é tempo pra caramba... lembra aquela noite que eu te levei pra casa e a gente encontrou os teus pais?... sei, bons tempos aqueles... e foi por acaso... nós tínhamos ido só passear, não era pra acontecer... mas vai dizer que você não gostou?... whatever... como você está loira... eu não sei se você sabe, mas é verdade... chérie, grande coisa... vamos embora... prefiro caminhar, hoje está bom... não está com frio?... te empresto meu casaco... é engraçado como são essas coisas... você sempre diz isso... então vem cá... a vida inteira a gente vai sempre se ver, apesar de tudo o que estiver acontecendo... eu acredito... nós dois... ainda bem que você nunca me viu nesse estado... eu te vejo serena... mas você não sabe como são essas coisas... como sua mão está quentinha... eu é que sou sangue frio... você sabe que me ama.

Mesmo sem brilho labial, de cara lavada e coração vazio. Lábios cheios, olhos fechados, pensamento em outra pessoa. Mãos juntas, pele e pele, olhos mergulhados. Meus cílios tocando a pele dele, seus cabelos louros, nossos movimentos impensados. O porquê de sempre acabarmos saindo juntos, o seu colo, a maneira como ele me olha. As recaídas, os filmes nunca assistidos, os calafrios do passado. Línguas buscando algo mais do que um beijo, corpos estreitados, dor de estar vivo. Mesmo sem amor, sem perder nem ganhar. O beijo demorado e quente, o sorriso... foi quando eu amei ele por dois segundos e pensei: puta que pariu, como estou feliz. Durante a vida inteira a gente sempre vai se encontrar. Triste ou feliz, depravada ou inteira. Todas aquelas palavras trocadas sem paixão nenhuma e o coração palpitando.

Depois, o abraço:

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Verbalizando a dor e a indiferença

Sabe aquela frase que diz "nada como um dia após o outro"? Parece só mais um clichê surrado, mas hoje ela parece se encaixar perfeitamente com a minha consciência. Eu sei que o pior já passou, mas essas lembranças ainda doem um pouco. Ultimamente eu ando tão dolorida que já criei anticorpos contra todas essas agressões verbais, porque é claro que vocês os que menos se importam. Não me peçam para chorar, porque chorar alivia e eu não quero aliviar nada. E não é masoquismo, é só saudade. Aprendi a lidar com isso; com o tempo tudo se esvai. Essa loucura desenfreada que dissipa a minha sã consciência e transforma o que eu penso em realidade. Mas não pensem que é fácil falar; encontrar as palavras adequadas tem sido mais difícil do que entender o que ele fez comigo. Ao contrário do que vocês pensam eu não estou triste. A única preocupação que tenho é fazer ele voltar pra mim, enquanto vocês ficam aí se lamentando por besteiras, feito eu. O diferencial é que eu manipulo, fantasio e verbalizo. É fácil desmentir. É fácil descolar um sorriso branco feito louça de banheiro e ligar o piloto automático. É fácil trazer ele de volta. É fácil ser eu. Nada como um dia após o outro.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Em frangalhos

Eu ainda tenho gravadas no meu celular as mensagens de texto que você me mandou, e eu sei que isso não me faz bem. É o sinal de fracasso dos fracassados que tanto desprezo e, contudo, agora faz parte de mim. A gente existiu um para o outro durante algum tempo. A verdade foi que pudemos sentir aquele latente sentimento palpitando nos nossos corações mimados demais. A gente cometeu os erros mais doloridos, falamos um para o outro coisas que não se diz; a gente abusou dos clichês mais surrados, quando na verdade só queríamos suprir a fome de carência que mordia o nosso estômago em frangalhos. A dor do primeiro encontro, do primeiro beijo, das lágrimas derramadas nos meus lençóis brancos. Não houve tempo suficiente para que eu te amasse fisicamente, porque você não permitiu que eu chegasse perto. Foi recuando, enquanto eu tentava inutilmente me agarrar aos últimos fiapos de afeto que você ainda sentia por mim. A verdade é que nós nos autodestruímos durante uma semana; e eu nunca pensei que fosse viver tanto em sete dias. Você abriu a porta do seu Audi pra eu entrar e isso não se faz. Você queria ser único pra mim; e, parabéns, você conseguiu. Tudo o que a gente chamava de amor era só um pretexto para ficar invisível a todos os outros problemas que naquele momento pareciam pequenos, se comparados a todo o sentimento envolto nos nossos lábios sôfregos. Era verdade que eu queria destilar terceiras intenções. Quando te chamei de poeta não estava mentindo. Mas você é poeta e não aprendeu a amar. Eu gostava de mergulhar o meu olhar no seu e ler o que eu estava mentalizando, gostava mesmo. A verdade é que eu precisava de alguém para amar naquele momento; de alguém que me fizesse ver que a felicidade se retifica e que os pensamentos se materializam em pouco tempo. E por incrível que pareça você me mostrou que isso era possível; e me mostrou, ainda, que se deve ter cuidado na hora de desejar. O problema foi que acabamos nos sujando demais, um contra o outro. Nada em vão. Sempre serei aquela que te amou quando você mal sabia onde estava pisando. Aquela que não falava, mas sentia tudo. Pelo menos eu tentei e sei que não certo. Pelo menos eu sei que pecado é agir como se eu te amasse, quando na verdade eu só preciso sorrir.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Vazio

Mas hoje não é uma dor boa. Não é produtiva, tampouco profunda. É vazia, porque é isso que eu consigo sentir: um vazio intenso me consumindo.