sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Go Away

... não! não foi porque enjoei do cheiro dele nos meus cabelos. Eu fui embora porque estava inspirada demais. Precisei esvaecer, libertar-me do meu vazio e aproveitar o período de cheia; porque com ele as coisas funcionavam na base dos clichês. Saí fora do ar e ninguém pode fazer nada. Tudo é mais bonito e mais dolorido. Poderia jurar que a fagulha eminente dentro de mim quase não existe mais. Hoje ela só faz parte das faltas de ar que eu sentia quando a gente se beijava. A dor se tornou sublime com o tempo; ratificou-se nas minhas palavras e nos meus atos doentios por alguém que, bem ou mal, roubou os meus vícios. Fui embora porque precisava respirar. Suspirar já não me adiantava de nada e o meio-termo me causava tédio. Perdi a conta de quantas vezes ele me abraçou e deixou transparecer todo aquele mel que até Deus duvida. Contudo, meus olhos não brilhavam de ilusão. Aquele brilho todo eram as lágrimas que só fui vir a desperdiçar hoje de manhã na frente do espelho e, que borraram o meu rímel. A verdade é que a gente não precisava mais um do outro, tudo estava perfeitamente sincronizado e chato. Fomos embora. Um pra cada canto. Sem despedidas ou telefonemas. Sem recados na secretária eletrônica ou doses de Martini para aliviar a dor. Foi tudo remediado com palavras que nem sabíamos que existiam. Com apertos em feridas que, até então, nunca havíamos tocado. Não houve pedidos de reconciliação ou aumento de voz. Não houve cumprimentos, não houve nada. Eu fui embora porque pensava que saberia viver sem ele; porque eu quis ter a última palavra. Foi simples. Curto. Rápido demais. Nem deu tempo de eu amá-lo fisicamente. Apenas pretensões. Lábios nos lábios. Sorrir. Resistir. Sofrer.

6 comentários:

Marcio Alexandre disse...

...nos soluços profundos em tempos de amor podemos ouvir por alguns instantes conselhos, frases feitas que nem mesmo entendemos, mas é melhor agir do que ficar na incerteza do que realmente desejamos para já e não para amanhã. Vida é experiência, ação, algumas simples e fáceis, outras complexas e dolorosas.
Mesmo com Martini e sem última palavra, a dureza da dúvida sobre o certo e errado é parte da vida.

http://dijanira.blogspot.com/

yéssica klein mori disse...

E os abraços que um dia acolheram, tornam-se sufocantes.

Jana disse...

"Fui embora porque precisava respirar. Suspirar já não me adiantava de nada e o meio-termo me causava tédio." Eu sei bem como é isso, incrivelmente dolorido e libertador.

beijos

Tathiana disse...

As razões por vezes são confusas, mas ninguém melhor que nós mesmos para entendê-las... Beijos.

She Python disse...

sempre escolhe o caminho mais difícil... dizem que a recompensa vem através do auto-conhecimento... taê... eu faço isso porquê?
quem disse que quero me conhecer... vc faz pq? será que há escolha?

Samantha Abreu disse...

pois é...
às vezes, a gente mete os pés pelas mãos.
mas veja: algo sempre é produzido no meio disso tudo. nem que seja um belo texto.

Parabéns!
beijos!