sábado, 2 de junho de 2007

lembro

Lembro-me da primeira vez que te deixei, como se fosse hoje. Só não recordo o motivo de ter abandonado toda a felicidade que eu sentia e que era projetada por intermédio de lençóis egípcios. Talvez eu quisesse mesmo tentar convencer a mim mesma de que era possível sobrevoar sozinha essa imensidão por onde caminhamos durante seis meses. Seis meses de consolo, de sentimentos nostálgicos e de uma paixão imensurável que sempre acabava fundindo-se com o calor emanado das nossas carnes úmidas. Seis meses que terminaram com a minha última palavra de ordem, naquele dia em que você estava mais lindo do que nunca. Acabou. Acabou tudo e eu não posso mais voltar atrás. Não me auto congratulo por ter decidido o nosso destino, é de meu feitio programá-lo da maneira que acho melhor, você sempre soube disso. Conhecia a minha impulsividade como ninguém, sabia dos meus pontos fracos, era só fazer com que agulha da frustração me picasse e transformasse os meus sonhos em pó. Mesmo eu dizendo que não sonhava, você podia reconhecer a minha mentira só de mergulhar o seu olhar no meu e ver que tudo o que eu mais queria era morrer ao seu lado. Acho que eu gostava de você, e isso era tudo mas não era nada. Desde o momento que adentrei o teu apartamento e senti o seu respectivo cheiro, todas as minhas tensões cessaram de pesar no meu inconsciente e, por um momento, fui tomada pelo mais indolor desejo de me agarrar em seu ombro e chorar, feito a menininha mimada que eu sempre fui. Se tivesse feito isso, poderia, hoje, estar em paz com a minha consciência, te amando novamente e rindo daquilo tudo o que a gente compartilhava com naturalidade. Poderia me isentar da minha pose de bonequinha de luxo, mas nunca deixar o orgulho da minha vida de sibarita. Mas não foi assim. Eu me ceguei, de repente, me desprendi dos braços da serenidade maleável presa aos meus lábios perfeitos e conjuguei todos os verbos que você nunca merecia ter ouvido. Discuti com classe, o olhar magnético, a postura ereta e o coração vazio. Jamais esquecerei do tamanho desconsolo estampado em teus olhos fatigados e do fastio interno que você mostrava desenhado nas entrelinhas da tua face. Foi demais pra mim. Havia cortes minúsculos por todo o meu corpo que doíam na alma. Os meus sussuros planejavam revelar algum vacilo meu, alguma palavra que me fizesse voltar atrás e te beijar como da primeira vez. Fora em vão. O mal já havia sido feito, o pior estava por vir. A lágrima mais quente e pesada nasceu do mar dos seus olhos e despedaçou os restos que jaziam em cima dos meus escarpins. Eu era a pior pessoa do mundo. E nós não existimos mais um pro outro. As fotos nunca reveladas, os mergulhos no Caribe, a felicidade de alguns meses atrás, está tudo sepultado na profundeza mais celeste da minha culpa impotente. Porque eu lembro, como se fosse hoje.


7 comentários:

Anônimo disse...

Você consegui, com esse texto, explicar um dos maiores mistérios da alma feminina (ou os motivos que fazem com que façam o que fazem) abandonar um homem no meio de uma relação.
Nunca compreendi porque as mulheres deixam um amor ainda amando, e depois escrevem, saudosas, sobre esse amor abandonado.
Se deixou e escreve, e sente saudades dos momentos bons, por que simplesmente não voltar?
Por que não dar mais uma chance à algo tão maravilhoso?
Todos erram, porém todos aprendem com seus erros.
Não sei se me entende...
Lendo o que escreveu creio ter entendido um pouco mais sobre o que acontece em suas lindas cabecinhas nessas situações.
Vocês simplesmente dão muito valor à detalhes (coisas de mulher que enxerga 10 tons de azul em uma camisa quando um homem só vê azul).
Vão somatizando pequenas falhas até se tornarem garndes o suficiente para acreditarem que não mais os querem.
Enfim...
Isso é conversa pra horas, preferencialmente ao som de Blues e algumas taças de vinho branco.

Beijinhos, dear.

P.S: Em relação ao seu comentário, vocês são minha única inspiração.
Sempre acreditaram que eu tenho um harén (como você, eu suponho, segundo suas palavras ali) eu simplesmente deixo que acreditem no que quiserem acreditar.

Haya disse...

Quem é que nunca fez isso né?
Eu sou Phd.
Voltei, estava com saudades.

G. Pinheiro disse...

Nossa, esses finais acabam comigo. Mas sempre tenho forças pra terminar ;)

E sim, eu voltei

Beijo!

Jana disse...

Pois é to prestes a fazer isso, dar tchau, bem no meio de tudo...
quem entende né?

beijos

Anônimo disse...

se é verdade, é o que vale.
.
.
.
.
.
.
ou não!!!!
bjs e boa semana GC.

Elisa
relatododia

Lucas Santos disse...

Nem sempre os finais são felizes, se é que existe final rsrs
Apesar do clima triste, adoro o seu jeito de escrever!
"A lágrima mais quente e pesada nasceu do mar dos seus olhos e despedaçou os restos que jaziam em cima dos meus escarpins". Adorei essa parte!
Bjos!

Lua disse...

totalmente complexa... kkkkkkk
adorei a parte... [conjuguei todos os verbos que você nunca merecia ter ouvido] ...

vai nos entender... mas acredito que talvez tivesse um bom motivo mesmo que nao enorme pra pular no meio do caminho... beijos