terça-feira, 22 de maio de 2007

réplica

Lady dos olhos mergulhados no fastio, Lady dos cílios sôfrefos...
Imaculada Lady, porque é exatamente assim que eu a chamo. Às vezes a vejo chegando em casa, mas ela nunca está com a mesma expressão no rosto. Ultimamente parece estar indiferente ao sol que brilha no céu ou ao vento cortante que passa pelo seu pescoço. Deve ser psicólogico dela. Quase sempre sai de casa e quando retorna está cheia de sacolas nos braços, é uma consumista assumida, isso eu já descobri. Lady tem duas amigas muito parecidas com ela. As três são elegantes, bem vestidas e cheias de não-me-toques! Vivem dando risadinhas estéricas e falando ao telefone sobre namorados, boates e um tal de Burn Book, algo desse gênero. De vez em quando elas também dormem na casa dela, quando chegam bêbadas de alguma farra. Entram ho hall e fazem o maior barulho, parece até que um dia desses quebraram uma estátua de mármore da mãe de Lady. Há algum tempo, ela tinha um namorado, suponho que eles tenham terminado. Não sei como era o nome dele, ela não costumava chamá-lo pelo nome. Desde aquela época, Lady ouve músicas muito bonitas de um tal de Cazuza. Algo me diz que ela sente ele perto, de alguma forma. Às vezes, surpreendo-me vendo a garota na enorme sacada de seu quarto observando as pessoas por trás dos seus óculos de estrela de cinema, e confesso que ela fica irresistível quando faz isso. Os sonhos dela parecem nitidamente alcançáveis, ela tem tudo o que quer, pelo menos no sentido material. Já a observei escrevendo em um caderninho misterioso de capa e folhas pretas, deve ser o seu diário. O mais curioso é que enquanto ela escreve, seu i-pod rosa está grudado ao ouvido, e eu daria tudo para saber o que está escrito naquele caderno e que cantor maldito está sussurrando ao seu ouvido. Não nego, eu gostaria de morar naquela casa. Gostaria de tirar um pouco de tristeza do seu olhar. Às vezes eu acho que me apaixonei por aquela garota. Às vezes eu acho que me apaixonei pelo meu jeito de ser.

12 comentários:

caracol menina ~° disse...

Sem dúvidas é um jeito de ser que não se passa despercebido.
A Lady tem coisas admiráveis e mais admirável é o observador onisciente.

Ps: roer unhas é horrível. Mas é o único vício que tenho....

Lua disse...

Nossa... eu li o texto todo e to perplexa, ou melhor, sem palavras. até visualizei, a sensaçao ate parecia que era minha... me vi em alguns momentos estranhos da minha vida... e o caderno que é mais um portifolio... se cuida menina

beijos

Jana disse...

Olha quem mandando eu parar de pensar rsrsrs

Eu sei como é isso, a gente se apega a nossa imagem...

beijos

Haya disse...

E é sempre tão bom as terceiras pessoas e os pseudônimos... freeeee!!!!! HUhuhuhu!

Anônimo disse...

Sinto que esse foi um auto-retrato poético, cantado em terceira pessoa pelo seu proprio inconsciente...
Adorei...
Beijosss

Lis. disse...

Isso tem um "que" de paixão.

Crispi. disse...

Sim, eu tb quero saber o que ela escreve, e mais ainda o que ela ouve.
Amei o texto, e senti a paixão :)

She Python disse...

ô coisinha complexada... vc ainda quer um lay novo pro teu blog?

Garota Enxaqueca disse...

Muito boa descrição... me senti transportada pro local... e querendo saber o que ela escreve e ouve também!

Anônimo disse...

O que será q se passa pela mente dela?

Anônimo disse...

Vc escreve mto bem.
Mto bem mesmo...
Beijos!

Anônimo disse...

Belíssima descrição de uma personalidade complexa.
Realmente sofisticada e intrigante sua narrativa.
Admirável, moça...Admirável.
Depois me diz o que é Burn Book, ok?

Beijos, carinhosos.

Ah sim, deixa eu confessar uma coisa aqui.
Fico um bocado feliz quando a vejo em meu Blog.
Você tem se tornado uma visita indispensável ali.
Sei que você tem mais o que fazer e tals...
Isso foi apenas uma constatação lacônica.
Algo que precisava dizer.

É isso...