Sua culpa

Tudo ficou abstrato demais. Chegou o tempo em que você não respirava mais na minha nuca, falando baixinho no meu ouvido aquilo que eu queria ouvir. Eu acordava dentro de um quarto escuro e não sabia mais chorar. Todas as vezes que eu me perguntei "por que" abaixei os olhos somente por não ter uma resposta digna pra oferecer a mim mesma. Aquilo doía: doía em lugares, lá dentro, que eu jamais tinha pensado existir. Foi assim que o tempo passou. O ano mudou quatro vezes de cor, o meu cabelo, também. Os meus amigos riam comigo, nós saíamos, divertíamos-nos. Mas quando eu afogava meu rosto no travesseiro, aqueles momentos de felicidade ficavam sepultados dentro do meu inconsciente, como se nunca tivessem existido. E as cores dos meus cabelos não faziam sentido algum. Chovia, mas eu tinha certeza de que o céu derramava todas as lágrimas que insistiam em não brotar dos meus olhos. Se fazia sol, eu não ria. Entretanto, meu rosto se iluminava artificialmente e eu sentia um pingo de vida penetrando na minha pele. As cartas que eu nunca cheguei a te entregar, os sorrisos enterrados junto às lembranças passadas só me faziam pensar que aquilo tudo era culpa sua. Os meus comprimidos comprovavam o meu estado de abstinência. Era culpa sua. Tudo culpa sua. Acabou tudo e eu tenho que seguir em frente, porque "nós" não existimos mais. Quem mandou você andar a duzentos por hora, seu idiota?